sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Trabalho Escrito - Textos

Grandes personalidades conviveram com a epilepsia

Escritores e Místicos

A área literária é a que reúne maior número de autores que tiveram epilepsia comprovada é mais fácil por registros escritos. Entre os escritores, o russo Dostoiévski foi o que mais descreveu os estados da epilepsia, antes mesmo da medicina. Ele começou a ter as crises aos 25 anos de idade. Os ataques se prolongaram até a sua morte aos 60 anos. Nestes 35 anos, o escritor teve cerca de 400 crises convulsivas, que eram seguidas de confusão mental, depressão e distúrbios temporários de fala e memória.
Em suas cartas, diários e obras literárias, Dostoiévski relatou as suas sensações características da epilepsia, como os estados de sonhos, pensamentos meditativos, sentimento de culpa, tremor, fuga de idéias, entre outras. Mas a doença para Dostoiévski foi mais um estímulo para ativar a sua genialidade. Ao usar a epilepsia como fonte de inspiração, o escritor venceu o desafio de conviver com ela e, sem tratamento em sua época, comprovou que os ataques não afetam o potencial intelectual e profissional.
O escritor Gustave Flaubert, autor de Madame Bovary, também é um outro exemplo de luta contra os problemas cotidianos da epilepsia. A doença se manifestou aos 22 anos de idade, com crises parciais simples, (com sintomas visuais de curta duração) e depois com crises complexas. Ele também apresentava os sintomas emocionais, como terror, pânico, alucinações, pensamentos forçados e fuga de idéias.
Em certo momento da vida, Flaubert se isolou socialmente e foi morar em Croisset. Para enfrentar as barreiras que a doença impunha, como a dificuldade na memória verbal, em encontrar as palavras, ele chegava a trabalhar 14 horas por dia e se tornou um dos grandes escritores franceses.
Vários outros escritores tiveram epilepsia, como Lord Byron, Dante, Charles Dickens, Leon Tolstói, Edgar Allan Poe, Agatha Christie, Truman Capote e Lewis Carrol. No Brasil o principal caso foi de Machado de Assis, que evitava comentar sobre a doença, numa tentativa de esconder a epilepsia por causa de seus estigmas. Mas os ataques eram freqüentes e foram testemunhados por várias pessoas e inclusive um desses ataques foi registrado pelo fotógrafo conhecido como velho Malta no centro do Rio de Janeiro.
Durante a história, várias pessoas que afirmavam ter revelações, ouvir vozes e ter visões, podem ter sofrido de epilepsia. Esses casos estão presentes entre personalidades de várias religiões, desde o início do catolicismo, do budismo, do islamismo e do protestantismo. Entre os místicos, há vários relatos de visões que podem ser atribuídas aos sintomas de epilepsia, como a luz brilhante que cegou São Paulo no deserto de Damasco, descrita na Bíblia e que o deixou sem enxergar por três dias. Entre outros dados históricos analisados por pesquisadores em neurologia estão as revelações de Buda, obtidas pela meditação que lhe proporcionava as visões e sensações do nirvana ou do paraíso, e de Maomé, que dizia receber os ensinamentos do Anjo Gabriel para escrever o Corão, o livro sagrado do islamismo.
Segundo o neurologista espanhol, Esteban Garcia-Albea, Santa Tereza de Jesus sofria de um tipo diferente de epilepsia parcial, provocada por uma pequena irritação no cérebro, que provocava sintomas afetivos de prazer e felicidade. A santa, nascida em Ávila no ano de 1515, tinha "crises de felicidade". Os sintomas eram; primeiro a aparição de uma luz, depois a paralisia do corpo, as alucinações e no final as sensações de prazer.
A causa dos problemas de Santa Tereza teria sido um estado de coma em decorrência de uma encefalite que a deixou desacordada por quatro dias. Quando já preparavam o funeral, seu pai se negou a enterrá-la e ela despertou com delírios e uma paralisia que a impediu de andar durante quatro anos. É possível que essa doença tenha deixado uma pequena cicatriz no cérebro e tenha causado as "crises de felicidade", que permaneceram por 12 anos.
Outros religiosos que podem ter tido epilepsia são: Martin Lutero, o criador da reforma protestante, e a francesa Joana D'Arc. Aos 43 anos Lutero começou a sentir crises de zumbido, que soavam como uma catarata. Mas a sua doença pode ser explicada também como o mal de Menieri, que causa problemas na região do labirinto e também pode provocar vertigens. Já a heroína francesa, aos 13 anos viveu os primeiros momentos de êxtase, vendo raios de luzes, ouvindo vozes de santos e visões de anjos.
Essas vozes incentivaram Joana D'Arc a guerrear contra a dominação inglesa. As sensações aconteceram até a sua morte aos 19 anos, queimada por heresia na fogueira da Inquisição.
Várias pesquisas são realizadas em todo o mundo para encontrar uma explicação para os fenômenos religiosos relacionados com o funcionamento do cérebro humano, com as suas redes neurais e reações químicas. São experimentos que analisam o comportamento do cérebro durante estados de meditação profunda, sob o efeito de substâncias psicoativas e nas crises epilépticas. O cientista Andrew Newberg, da Universidade da Pensilvânia, fez experimentos com budistas em meditação, aplicando contrastes radioativos para analisar as imagens em um tomógrafo. Os resultados mostraram uma redução na atividade da região do cérebro conhecida como lobo parietal, que controla a orientação. Segundo o cientista, algumas experiências espirituais podem ser explicadas, porque a pessoa perde ou diminui a fronteira entre ela mesma e o mundo, entrando em comunhão com o Universo.

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